segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Poeta Com veias Políticas

Tico Santa Cruz é conhecido através das músicas dos Detonautas ou por sua atuação política em manifestatações e contra a violência e impunidade junto a Ong Voluntários da Pátria. Mas, pouca gente sabe, por trás das tatuagens, dos piercings e da insatisfação do músico está um poeta sensível e angustiado. Não, ele não está lançando nenhum livro (ainda!), mas a cada dia mais se envolve entre as palavras.

Há um ano, conheci o Tico no Corujão Poético á Universo da Leitura, um encontro de poetas que acontece durante as madrugadas na Livraria Letras e Expressões, no Leblon. E foi nesse mesmo lugar que conversei com o músico-poeta, que toda semana bate ponto no evento que tem uma platéia grande e cativa: atores, músicos, poetas, professores e boêmios apaixonados por literatura.

O papo foi rápido, aconteceu nos corredores da livraria e durante a falação poética. Mas mesmo assim foi muito produtivo, em pouco mais de dez minutos já havíamos falado de política, literatura, música e processo criativo. A cada poesia falada, ele se comportava como um adolescente embevecido.

Click(IN)VERSOS � Gostaria que você começasse falando sobre a sua atuação política, das manifestações contra a violência, impunidade, corrupção...

TICO SANTA CRUZ - Na verdade, fazemos um movimento simbólico. Por não contar com o apoio popular de massa, resolvemos fazer ações como a do Greenpeace: atuamos para gerar a reflexão, fazemos o protesto e pessoas pensam... Nesta quarta-feira (dia 25 de abril), vamos fazer manifestação dos fantasmas na escadarias da ALERJ, representando a sociedade fantasma: a justiça fantasma, os funcionários fantasmas, os políticos fantasmas, o STJ fantasma... Tudo que é fantasma no Brasil que nós pensamos que existe e não conseguimos ver além da imaginação. É isso que queremos representar.

Click(IN)VERSOS � E o que você espera com esses protestos?

TICO SANTA CRUZ - Não espero nada...Na verdade espero que pelo menos uma pessoa pare diante dessa mobilização e questione. O povo brasileiro aceita muitas coisas sem questionar. Se tocar uma pessoa, estou satisfeito. O que estamos tentando plantar é o questionamento.

Click(IN)VERSOS � Na rua há rumores de que o Tico Santa Cruz quer se tornar político. Isso é verdade?

TICO SANTA CRUZ - Não. Quem falou nisso? Não, não...(RISOS) Não tenho rabo preso com ninguém. Eu vejo que a nossa política ainda está muito poluída, e para despoluir é um processo lento. Eu estou do lado oposto, do lado da contestação. Isso não quer dizer que daqui a 20 ou 40 anos eu não possa vir a pensar nesta possibilidade. Mas neste momento não penso nisso de forma alguma. Até porque se eu me colocar à frente de um partido político vou limitar o que quero falar, eu quero poder me expressar livremente!

Click(IN)VERSOS � Você é músico e um grande simpatizante de poesia. Como funciona essa relação da música com a literatura?

TICO SANTA CRUZ - Isso tudo é muito novo pra mim. Eu comecei a ler e a me dedicar � literatura realmente de uns 5 a 6 anos para cá. Até os meus 23 anos, que foi quando o meu filho nasceu, descobri que eu tinha o habito de ler. Mas nessa época não era algo frenético como é hoje, que leio muito e escrevo.

Click(IN)VERSOS � O que chegou primeiro, a música ou a literatura?

TICO SANTA CRUZ - A música chegou primeiro! A música veio para mim de uma forma diferente. Ela chega por meio da sonoridade e não da letra em si. Na música gosto de fonemas e não necessariamente da palavra como significado poético. E hoje em dia o que tento fazer no meu trabalho é os fonemas com a poesia. E isso é um trabalho difícil, as pessoas pensam que é fácil, mas não é não. As pessoas pensam que é fácil porque é uma melodia popular, mas realizar um trabalho bonito, bem escrito, é complicado. Eu estou começando a apreender agora.

Click(IN)VERSOS � E como funciona o seu processo criativo?

TICO SANTA CRUZ - Eu sou meio livre. Eu não tenho uma regra, não me condiciono a nada. Aparece e vem... O novo CD do Detonautas é O Retorno de Saturno - que estamos produzindo, por exemplo, foi assim: eu viajei para Trancoso, lá foi batendo várias inspirações e assim surgiram sete músicas. Para mim isso é uma riqueza espiritual. Eu não sigo uma regra, mas quando aparece, estou atento. Meu celular tem um gravadorzinho, que eu gravo tudo, qualquer idéia.

Click(IN)VERSOS � Ha pouco tempo você declarou numa entrevista que é um eterno angustiado. Você só escreve quando está neste estado?

TICO SANTA CRUZ � Ah normalmente eu sou angustiado, então eu costumo escrever angustiado. Mas eu aprendi a lidar com essa angústia de uma forma positiva, de entender que isso faz parte da minha natureza e que tenho que aprender a lidar com isso.

Click(IN)VERSOS � Quais são as suas maiores influências, seja na música ou na literatura.

TICO SANTA CRUZ - Na música eu posso citar três pessoas que me identifico imediatamente, são grandes ícones para mim: Raul (Seixas), Cazuza e Renato (Russo). São três caras que eu miro, é onde eu miro. São os três músicos que reverencio. Já na literatura, eu gosto muito de ler filosofia. Tem dois autores que são meus mestres filosóficos: um é Osho e o outro é Andr� Comte-Sponville � um autor contemporâneo, que escreveu Bom Dia, Angústia, Felicidade Desesperadamente, O Pequeno Tratado das Grandes virtudes... E gosto muito do Irvin D. Yalom, que escreveu Quando Nietszche Chorou e A Cura de Schopenhauer.

Eu gosto dessas leituras que misturam psicanálise e trabalho da mente. Poesia eu leio pouco, mas há um tempo eu peguei Florbela Espanca, que é incrível. Gosto também de poesia marginal, não gosto muito de coisas muito clássicas. Embora, outro dia, eu tenha descoberto o Drummond e me encantado. Antes falavam em Drummond e eu lembrava daquela coisa chata, quando você está na escola e é obrigado a ler. Foi assistindo um documentário sobre o poeta que eu desfiz essa imagem. Tem M�rio de S� Carneiro, um poeta portugu�s contempor�neo do Fernando Pessoa, que eu gosto bastante.
lick(IN)VERSOS � E os autores contempor�neos?

TICO SANTA CRUZ � Tem uma galera que conheci aqui (no Corujão Poético � Leblon): o Tavinho Paes, Leprevoust, Igor Cotrin, Jean Queiroz... Todas essas pessoas que conheci aqui, com quais eu convivo e admiro o trabalho.

Click(IN)VERSOS � Esse evento � Coruj�o Po�tico � da Letras e Express�es, � o primeiro movimento po�tico que participa?

TICO SANTA CRUZ - Sim, eu comecei aqui. Quando eu entrei aqui, eu achei que estava vivendo uma ficção cient�fica... (RISOS) Porque vi isso aqui acontecer numa época em que o evento não era tão grandioso. Era uma coisa muito sublime, voltada para poucas pessoas. Eu fiquei impressionado, parecia a época do Tom e do Vinícius, a galera de chapeuzinho... Eu me perguntava se era verdade mesmo. É muito bom ver pessoas interessantes, falando coisas boas. E aí comecei a frequentar e isso foi mudando minha vida.

Click(IN)VERSOS � Você tem vontade de publicar um livro?

TICO SANTA CRUZ - Sim tenho vontade. Eu tenho um blog (Clube da Insônia), que eu escrevo muito, desde 2004. Eu não tenho pretensão de lançá-lo agora não, ainda quero adquirir mais bagagem, mais carga para poder usar isso como literatura e não só como forma de expressão.

Click(IN)VERSOS � Que recado deixaria para o jovens autores e jovens músicos que estão por a�?

TICO SANTA CRUZ - Ah isso engraçado... Sei lá!? Eu diria �experimente�! Experimentar é tudo, a transformção vem da experimentação.



@FaDetonautas

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